domingo, 28 de março de 2010


Agressão a professores em São Paulo

Pelo menos dezesseis pessoas ficaram feridas ontem – nove professores e sete policiais, segundo a Polícia Militar – durante as quase três horas de duração da batalha campal a que se entregou a PM do governador José Serra (PSDB) para impedir que manifestantes do magistério em greve se aproximassem do Palácio dos Bandeirantes, a sede do governo estadual.

A mobilização das tropas de Serra se estendeu das rodovias de acesso a São Paulo até os arredores do Palácio. Nas estradas, a Polícia Rodoviária Estadual bloqueou a passagem de ônibus lotados de professores que pretendiam participar da assembleia marcada para o meio da tarde. Em frente à sede do governo, a ação da PM consistiu, inicialmente, em levantar uma barricada de concreto e dispor uma tropa fortemente armada, com o objetivo de evitar que os professores ocupassem a área para realizar a assembleia.

Fechado o acesso ao local, 30 mil professores, segundo o sindicato da categoria, ou 7.000, segundo a PM, transferiram a assembleia para uma praça em frente ao estádio do Morumbi. Foi lá que os professores decidiram continuar a greve. E foi lá que as tropas de Serra cercaram e agrediram, brutal e covardemente, milhares de homens e mulheres que formam o magistério público estadual.

Para impedir que os professores avançassem em passeata rumo ao Palácio do governo, a Cavalaria, a Tropa de Choque e a Força Tática acionadas por Serra encurralaram a multidão e atacaram com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes, ao mesmo tempo em que um helicóptero da PM agravava a agressão disparando jatos de pimenta sobre os manifestantes. Alguns reagiram jogando pedras nos policiais.

Os professores de história Severino Honorato da Silva e Luis Cláudio de Lima foram feridos por balas de borracha. Luis Cláudio foi atingido na barriga e estava internado à noite passada, “em estado grave”, segundo a presidente do sindicato estadual da categoria (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha.

Carlos Ramiro de Castro, professor e vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi ferido na testa por estilhaços de bombas quando tentava negociar com os policiais.

“Foi horroroso. Os policiais vieram com muita violência. Foi bomba para todo lado”.

“Estava difícil respirar por causa das bombas de gás lacrimogêneo. A passeata só andou um quarteirão”, relatou a deputada estadual Maria Lúcia Prandi (PT), que é professora aposentada.

AGRESSÃO SIM, NEGOCIAÇÃO NÃO

Enquanto as tropas que Serra comanda agrediam os professores, o governador manteve o comportamento que o caracteriza em situações de crise: escondeu-se. Dois de seus secretários – da Casa Civil e da Educação – seguiram o chefe e também se esconderam. Assim, uma comissão de dez representantes do magistério transportada ao Palácio numa viatura policial foi recebida pelos secretários-adjuntos da Casa Civil e da Educação, Humberto Rodrigues e Guilherme Breno. Foram eles os escalados pelo governador para dizer aos professores que não haverá negociação enquanto houver greve.

“Os líderes dos professores foram levados em viatura ao Palácio dos Bandeirantes e lá foram informados que não havia negociação. É um absurdo chamar para dizer que não existe diálogo”, relatou a deputada Maria Lúcia, presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa.

Além de Maria Lúcia, acompanharam os professores na tentativa de negociação os deputados estaduais Roberto Felício e Simão Pedro, o deputado federal Paulo Teixeira – todos também petistas – e outros parlamentares que formam a oposição ao Governo Serra.

“Foi uma farsa”, resumiu o deputado Roberto Felício.

À noite, os titulares de secretarias que haviam sumido, continuaram escondidos – atrás de uma nota. No texto, a Secretaria de Educação “lamenta a truculência e a violência dos sindicalistas” e não faz qualquer referência à repressão policial.

Os professores, que reivindicam reajuste salarial de 34,3% e outros benefícios, marcaram nova assembléia para o dia 31, quarta-feira, mesma data em que José Serra pretende renunciar ao governo para disputar a Presidência da República pela aliança PSDB/DEM e PPS.

Do Brasília Confidencial

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